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domingo, 12 de setembro de 2010
O SANTO DESILUDIDO
Inclinara-se a palestra, no lar humilde de Cafarnaum, para os assuntos alusivos à devoção, quando o Mestre narrou com significativo tom de voz: — Um venerado devoto retirou-se, em definitivo, para uma gruta isolada, em plena floresta, a pretexto de servir a Deus.
Ali vivia, entre orações e pensamentos que julgava irrepreensíveis, e o povo, crendo tratar-se de um santo messias, passou a reverenciá-lo com intraduzível respeito.
Se alguém pretendia efetuar qualquer negócio do mundo, dava-se pressa em buscar-lhe o parecer.
Fascinado pela alheia consideração, o crente, estagnado na adoração sem trabalho, supunha dever situar toda gente em seu modo de ser, com a respeitável desculpa de conquistar o paraíso.
Se um homem ativo e de boa-fé lhe trazia à apreciação algum plano de serviço comercial, ponderava, escandalizado: — É um erro.
Apague a sede de lucro que lhe ferve nas veias.
Isto é ambição criminosa.
Venha orar e esquecer a cobiça.
Se esse ou aquele jovem lhe rogava opinião sobre o casamento, clamava, aflito: — É disparate.
A carne está submetendo o seu espírito.
Isto é luxúria.
Venha orar e consumir o pecado.
Quando um ou outro companheiro lhe implorava conselho acerca de algum elevado encargo, na administração pública, exclamava, compungido: — É um desastre.
Afaste-se da paixão pelo poder.
Isto é vaidade e orgulho.
Venha orar e vencer os maus pensamentos.
Surgindo pessoa de bons propósitos, reclamando-lhe a opinião quanto a alguma festa de fraternidade em projeto, objetava, irritadiço: — É uma calamidade.
O júbilo do povo é desregramento.
Fuja à desordem.
Venha orar subtraindo-se à tentação.
E assim, cada consulente, em vista da imensa autoridade que o santo desfrutava, se entristecia de maneira irremediável e passava a partilhar-lhe os ócios na soledade, em absoluta paralisia da alma.
O tempo, todavia, que todo transforma, trouxe ao preguiçoso adorador a morte do corpo físico.
Todos os seguidores dele o julgaram arrebatado ao Céu e ele mesmo acreditou que, do sepulcro, seguiria direto ao paraíso.
Com inexcedível assombro, porém, foi conduzido por forças das trevas a terrível purgatório de assassinos.
Em pranto desesperado indagou, à vista de semelhante e inesperada aflição, dos motivos que lhe haviam sitiado o espírito em tão pavoroso e infernal torvelinho, sendo esclarecido que, se não fora homicida vulgar na Terra, era ali identificado como matador da coragem e da esperança em centenas de irmãos em humanidade.
Silenciou Jesus, mas João, muito admirado, considerou: — Mestre, jamais poderia supor que a devoção excessiva conduzisse alguém a infortúnio tão grande! O Cristo, porém, respondeu, imperturbável: — Plantemos a crença e a confiança entre os homens, entendendo, entretanto, que cada criatura tem o caminho que lhe é próprio.
A fé sem obras é uma lâmpada apagada.
Nunca nos esqueçamos de que o ato de desanimar os outros, nas santas aventuras do bem, é um dos maiores pecados diante do Poderoso e Compassivo Senhor.
Livro Jesus no Lar, lição 11 – Médium: Chico Xavier – Espírito: Néio Lúcio.
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