O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO
Cap.
11 – Amar O Próximo Como A Si Mesmo
LÁZARO - Paris, 1862
8 – O amor resume toda a doutrina de
Jesus, porque é o sentimento por excelência, e os sentimentos são os instintos
elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só
tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e
purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no
sentido vulgar do termo, mas esse sol interior, que reúne e condensa em seu
foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei do
amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias
sociais. Feliz aquele que, sobrelevando-se à humanidade, ama com imenso amor os
seus irmãos em sofrimento! Feliz aquele que ama, porque não conhece as
angústias da alma, nem as do corpo! Seus pés são leves, e ele vive como
transportado fora de si mesmo. Quando Jesus pronunciou essa palavra divina, —
amor — fez estremecerem os povos, e os mártires, ébrios de esperança, desceram
ao circo.
O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar a segunda palavra do
alfabeto divino. Ficai atentos, porque essa palavra levanta a lápide dos
túmulos vazios, e a reencarnação,
vencendo a morte, revela ao homem deslumbrado o seu patrimônio intelectual. Mas
já não é mais aos suplícios que ela conduz, e sim à conquista do seu ser,
elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito, e o Espírito deve agora
resgatar o homem da matéria.
Disse que o homem, no seu início, tem apenas instintos. Aquele,
pois, em que os instintos dominam, está mais próximo do ponto de partida que do
alvo. Para avançar em direção ao alvo, é necessário vencer os instintos a favor
dos sentimentos, ou seja, aperfeiçoar a estes, sufocando os germes latentes da
matéria. Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos. Trazem
consigo o progresso, como a bolota oculta o carvalho. Os seres menos adiantados
são os que, libertando-se lentamente de sua crisálida, permanecem subjugados
pelos instintos.
O Espírito deve ser cultivado como um campo. Toda a riqueza futura
depende do trabalho atual. E mais que os bens terrenos, ele vos conduzirá à
gloriosa elevação. Será então que, compreendendo a lei do amor, que une a todos
os seres, nela buscareis os suaves prazeres da alma, que são o prelúdio das
alegrias celestes.
FÉNELON
Bordeaux, 1861
9 – O amor é de essência divina. Desde
o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a
centelha desse fogo sagrado. É um fato que tendes podido constatar muitas
vezes: o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem por um ser ou um
objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de todas as vicissitudes,
atingindo freqüentemente alturas sublimes.
Disse por um ser ou um objeto qualquer, porque existem, entre vós,
indivíduos que dispensam tesouros de amor, que lhes transbordam do coração, aos
animais, às plantas, e até mesmo aos objetos materiais. Espécies de misantropos
a se lamentarem da humanidade em geral, resistem à tendência natural da alma,
que busca em seu redor afeição e simpatia. Rebaixam a lei do amor à condição do
instinto. Mas, façam o que quiserem, não conseguirão sufocar o germe vivaz que
Deus depositou em seus corações, no ato da criação. Esse germe se desenvolve e
cresce com a moralidade e a inteligência, e embora freqüentemente comprimido
pelo egoísmo, é a fonte das santas e doces virtudes que constituem as afeições
sinceras e duradouras que vos ajudam a transpor a rota escarpada e árida da
existência humana.
Há algumas pessoas a quem repugna a prova da reencarnação, pela
idéia de que outros participarão das simpatias afetivas de que são ciosas.
Pobres irmãos! O vosso afeto vos torna egoísta. Vosso amor se restringe a um
círculo estreito de parentes ou de amigos, e todos os demais vos são indiferentes.
Pois bem: para praticar a lei do amor, como Deus a quer, é necessário que
chegueis a amar, pouco a pouco, e indistintamente, a todos os vossos irmãos. A
tarefa é longa e difícil, mas será realizada. Deus o quer, e a lei do amor é o
primeiro e o mais importante preceito da vossa nova doutrina, porque é ela que
deve um dia matar o egoísmo, sob qualquer aspecto em que se apresente, pois
além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de
nacionalidade. Jesus disse: “Amai ao vosso próximo como a vós mesmos”; ora,
qual é o limite do próximo? Será a família, a seita, a nação? Não: é toda a
humanidade! Nos mundos superiores, é o amor recíproco que harmoniza e dirige os
Espíritos adiantados que os habitam. E o vosso planeta, destinado a um progresso
que se aproxima, para a sua transformação social, verá seus habitantes
praticarem essa lei sublime, reflexo da própria Divindade.
Os efeitos da lei do amor são o aperfeiçoamento moral da raça
humana e a felicidade durante a vida terrena. Os mais rebeldes e os mais
viciosos deverão reformar-se, quando presenciarem os benefícios produzidos pela
prática deste princípio: “Não façais aos outros os que não quereis que os
outros vos façam, mas fazei, pelo contrário, todo o bem que puderdes”.
Não acrediteis na esterilidade e no endurecimento do coração
humano, que cederá, mesmo de malgrado, ao verdadeiro amor. Este é um imã a que
ele não poderá resistir, e o seu contato vivifica e fecunda os germes dessa
virtude, que estão latentes em vossos corações. A Terra, morada de exílio e de
provas, será então purificada por esse fogo sagrado, e nela se praticarão a
caridade, a humildade, a paciência, a abnegação, a resignação, o sacrifício,
todas essas virtudes filhas do amor. Não vos canseis, pois, de escutar as palavras
de João Evangelista. Sabeis que, quando a doença e a velhice interromperam o
curso de suas pregações, ele repetia apenas estas doces palavras: “Meus
filhinhos, amai-vos uns aos outros!”.
Queridos irmãos, utilizai com proveito essas lições: sua prática é
difícil, mas delas retira a alma imenso benefício. Crede-me, fazei o sublime
esforço que vos peço: “Amai-vos”, e vereis muito em breve, a Terra modificada
tornar-se um novo Eliseu, em que as almas dos justos virão gozar o merecido
repouso.
SANSÃO
Membro da Sociedade Espírita de Paris, 1863
10 – Meus queridos condiscípulos, os
Espíritos aqui presentes vos dizem pela minha voz: Amai muito, para serdes
amados! Tão justo é este pensamento, que nele encontrareis tudo quanto consola
e acalma as penas de cada dia. Ou melhor: fazendo isso, de tal maneira vos
elevareis acima da matéria que vos espiritualizareis antes mesmo de despirdes o
vosso corpo terreno. Os estudos espíritas ampliaram a vossa visão do futuro, e
tendes agora uma certeza: a do vosso progresso para Deus, com todas as
promessas que correspondem às aspirações da vossa alma. Deveis também vos
elevar bem alto, para julgar sem as restrições da matéria, e assim não condenar
o vosso próximo, antes de haver dirigido o vosso pensamento a Deus.
Amar, no sentido profundo do termo, é ser leal, probo,
consciencioso, para fazer aos outros aquilo que se deseja para si mesmo. É
buscar em torno de si a razão íntima de todas as dores que acabrunham o
próximo, para dar-lhes alívio. É encarar a grande família humana como a sua
própria, porque essa família irá reencontrar um dia em mundos mais adiantados,
pois os Espíritos que a constituem são, como vós, filhos de Deus, marcados na
fronte para se elevarem ao infinito. É por isso que não podeis recusar aos
vossos irmãos aquilo que Deus vos deu com liberalidade, pois, de vossa parte,
seríeis muito felizes se vossos irmãos vos dessem aquilo de que tendes
necessidade. A todos os sofrimentos, dispensai, pois uma palavra de ajuda e de
esperança, para vos fazerdes todo amor e todo justiça.
Crede que estas sábias palavras: “Amai muito, para serdes amados”,
e seguirão os seus cursos. Esta máxima é revolucionária e segue uma rota firme
e invariável. Mas vós já haveis progredido, vós que me escutais: sois
infinitamente melhores do que há cem anos; de tal maneira vos modificastes para
melhor, que aceitais hoje sem repulsa uma infinidade de idéias novas sobre a
liberdade e a fraternidade, que antigamente teríeis rejeitado. Pois daqui a cem
anos aceitará também, com a mesma facilidade, aquelas que ainda não puderam
entrar na vossa cabeça.
Hoje, que o movimento espírita avançou bastante, vede com que
rapidez as idéias de justiça e de renovação, contidas nos ditados dos
Espíritos, são aceitas pela metade das pessoas inteligentes. É que essas idéias
correspondem ao que há de divino em vós. É que estais preparados por uma
semeadura fecunda: a do último século, que implantou na sociedade as grandes
idéias de progresso. E como tudo se encadeia, sob as ordens do Altíssimo, todas
as lições recebidas e assimiladas resultarão nessa mudança universal do amor ao
próximo. Graças a ela, os Espíritos encarnados, melhor julgando e melhor
sentindo, dar-se-ão as mãos até os confins do vosso planeta. Todos se reunirão,
para entender-se e amar-se, destruindo todas as injustiças, todas as causas de
desentendimento entre os povos.
Grande pensamento de renovação pelo Espiritismo tão bem exposto em
O
Livro dos Espíritos, tu produzirás o grande milagre do século
futuro, o da reunião de todos os interesses materiais e espirituais dos homens,
pela aplicação desta máxima bem compreendida: Amai muito, para serdes amados!
Fonte da imagem: Internet Google.
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