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sábado, 3 de setembro de 2016

Cantiga da Fé

Indagas, coração,
Como seguir além de alma segura,
Ante a noite de pranto e de amargura,
Como agir e avançar...

Contemplemos a estrada em que marchamos:
Quando a tormenta ruge, implacável e cega,
A vida roga em tudo a que se apega:
Confiar, confiar...

Bramem trovões, ao longe riscam raios,
Grandes árvores tombam retorcidas,
Gemem no vale multidões de vidas,
O furacão é um monstro sem lugar...

As aves espantadas, entretanto,
Relegadas, de chofre, aos assombros da furna,
Pipilam, como em prece, ante a treva noturna:
Confiar, confiar...

Pedras lascadas rolam sob estrondos,
Gritam rochas no impacto violento,
Braços ocultos no fragor do vento
Movem a gleba multissecular...

Águas descendo gera fúria, jorram lodo
E engolindo-as gera paz, sem que se afronte,
Conquanto a sufocar-se, reza a fonte:
Confiar, confiar...

Mas o aguaceiro passa... A sombra aos poucos,
Foge temendo o dia que a devora
As janelas de luz da nova aurora
Abrem-se, a plenos céus, de par em par...

O Sol ressurge a refazer o campo
Depois extingue a lama dos caminhos
E as aves cantam restaurando os ninhos:
Confiar, confiar...

Assim também, alma querida e boa,
Nos momentos de angústia a que te levas
Sofre sem reclamar a convulsão das trevas,
Persistindo no bem, a servir e a esperar...

E embora as aflições e as lágrimas do mundo,
Pela fé, ouvirás, de ânimo atento,
A mensagem de Deus no amento:
Confiar, confiar...


Autora: Maria Dolores

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